terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Acho que a gente tem que vencer. Ou lutar. E ficar bem. Feliz. Criar. Fazer. Se mexer. Odeio autodestruição… Não suporto o fracasso deliberado, não suporto a covardia. É meio cruel, mas não suporto.
-Lembra daquela garota que te falei?
-Sim. Tá com saudades?
-Não. Eu só gostaria de agradecê-la.
-Agradecer? Por quê?
-Por ter acredito em mim quando nem eu mesmo acreditava.
(Celso Pimentel)
Talvez a alma parta antes, e não saiba direito para onde ir sem o corpo. Na morte deve ser parecido.
Mas o que dói mesmo é esse finalzinho de dia. A hora que eu validava a minha existência com a sua atenção.
No vácuo de mim eu me despenco. Porque seria preciso também abdicar de mim mesmo para novamente reconstruir-me.
Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga…
E quando recebo suas mensagens de texto, ao longe, dizendo meio que genericamente que deseja tudo de bom e sente saudade, fico com vontade de perguntar se aquele recado chegou só pra mim ou foi disparado para toda lista do celular.
Então um lado meu pensa: é sina, é fado, é destino, é maldição. Outro lado pensa: não, é mera neurose.
Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Eu quero eternizar o seu sorriso lindo – mas eu nunca falei dele pra você. Nem falei do seu cheirinho bom.
E a gente promete nunca mais telefonar para quem nos faz sofrer, mas acaba telefonando, e ela atende, e implica, e a gente some, e ela chama, e a gente volta, e briga, e ama, e sofre, e ama, e ama, e ama, e desama, e termina, e quando parece que cansamos, que não há mais espaço para um novo amor, outro aparece, outro parto, começa tudo de novo, aquele ata-e-desata, o coração da gente sendo puxado para fora.
Então o que? Nem eu sei. Mas sei da minha enxaqueca que já dura uma semana. Latejando sem parar. O coração que subiu nos ouvidos. Gritando que sente falta e pronto.
Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Eram tão raros os nossos momentos, você dizia, que eram para ser sempre bons. E de fato sempre eram.
Mas é por esses caminhos que parecem tortos que você tem que caminhar, e as coisas vêm ao seu encontro.
— Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer, o problema é que essa coisa talvez dependa de uma outra pessoa para começar a acontecer.
— Toque nela com cuidado. Senão ela foge.
— A coisa ou a pessoa?
— As duas.
Bonito mesmo é essa coisa da vida:
Um dia, quando menos se espera, a gente se supera e chega mais perto de ser quem na verdade a gente é.
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